segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Vendedora de Cupidos (A) – José Leon Machado



Tido como o 2º volume de uma trilogia em que o autor se propõe a narrar a situação de Portugal durante três conflitos, sendo que o primeiro volume foi o excelente “Memória das Estrelas sem Brilho” onde o enredo se situa durante a 1ª Grande Guerra, este volume, A Vendedora de Cupidos, situa-nos entre 1943 e 1945 em plena 2ª Grande Guerra e tem como plano de fundo um Portugal rural, onde as suas gentes levam uma vida de trabalho e sofrimento sempre com receio que a guerra que está a suceder na Europa os envolva.


O livro inicia-se com a morte do padre da Gralheira em Dezembro de 1943 que aparece morto na sua cama. Aparentemente falecido de morte natural, o regedor, autoridade policial da freguesia, é chamado para averiguar a ocorrência, procedendo a uma série de averiguações  que o irão fazer ponderar na hipótese de se ter tratado de um crime. Nas suas investigações, irá descobrir que o padre de santo tinha muito pouco e que se havia envolvido com uma mulher casada, e casada com um homem rico e importante e, para além disso, que esse padre estava envolvido no desvio de volfrâmio de uma mina explorada por uma companhia alemã.


É, diga-mos, esse o ponto de partida para um enredo que, na minha opinião, não tendo a qualidade e o interesse do livro antecedente, é, porém, bem conseguido e que nos lança numa série de eventos muito interessantes e que nos irão dar a conhecer um Portugal profundo, cheio de superstições e de conceitos que, a meu ver, pouco mudaram, ou seja, é possível perceber que a mentalidade lusitana pouco ou nada mudou desde essa altura.


Por outro lado temos também a questão da extração do volfrâmio e dos jogos políticos do governo português que, de bem com Deus e com o Diabo, permitiram Portugal ser uma nação neutra e assim evitar a invasão nazi que paira desde o início. Percebemos, dessa forma, como se jogaram os dados, satisfazendo ambos os lados do conflito e a importância vital que o volfrâmio teve.

Mas e tirando esse facto histórico, temos um enredo que gira de início a fim sobre a misteriosa morte do padre, trazendo-nos alguns personagens do livro anterior, pese embora tenham uma participação secundária, porém uma participação que gostei, embora não me tivesse importado que a sua participação tivesse sido mais incisiva.

De salientar também as várias “considerações” que o autor vai fazendo ao longo da obra: “A justiça nunca foi feita para castigar os criminosos. A justiça existe para salvaguardar os seus interesses e livrá-los do castigo.”. Às tantas, numa conversa onde se fala sobre os Lusíadas, alguém afirma: “A visão que dá dos portugueses é uma farsa. Nós não somos um povo de heróis. Somos um povo de ladrões e oportunistas”, e outras considerações pouco abonatórias para os políticos…

Em todo o caso gostei muito do livro e vou procurar ler agora o terceiro volume: Heróis do Capim, este editado em 2016.

Sem comentários: