quarta-feira, 17 de julho de 2013

Rio das Flores – Miguel Sousa Tavares

Por muito que não o queiramos, é quase impossível não tecermos comparações entre este livro e o best-seller “Equador”, livro excepcional que, até aos dias de hoje, consta na galeria dos meus livros favoritos.

“Rio das Flores” tem alguma coisa de “Equador”.

Primeiro, tem aquela fluência e beleza linguística e narrativa que, honestamente, me faz lembrar Eça de Queirós e que já o havia constatado em “Equador”. Depois, novamente Miguel Sousa Tavares (MST) imprime um ritmo alucinante à narrativa que mal nos deixa respirar, inundando-nos de acontecimentos históricos e de detalhes deliciosos sobre o modo de vida e das situações sociopolítica da época. E, finalmente mas de uma enorme importância, a força e o carácter dos personagens principais, as suas convicções bem enraizadas e fundamentadas que dão ao romance um cunho que ultrapassa o mero romance histórico.

O Portugal rural está aqui bem caracterizado assim como o proprietário abastado, dono de uma vasta propriedade e cuja importância está bem vincada na sociedade local. A república é muito jovem e em Lisboa sucedem-se as confusões que vão dar origem ao Estado Novo e à ditadura. MST faz um belíssimo trabalho na explanação dos acontecimentos, inserindo-os na história da família Ribera Flores.

Ao longo do romance, que li num ápice, vamos descobrindo as razões por detrás das razões de muitas decisões que levaram muitos a exilarem-se, a combater por ideais ou a mudar de barricada conforme as circunstâncias. O autor vai expressando as suas ideias de uma forma clara mas sem influenciar ou omitir os verdadeiros acontecimentos. É verdade que, por vezes, MST se excede um pouco nos adjectivos utilizados para caracterizar certos personagens, no entanto acaba por dizer aquilo que pensamos.

Um romance excepcional que me cativou desde a primeira página. Adorei ler sobre o meio rural português dos anos 20 e 30. Dos ideais políticos e das motivações que transformaram Portugal e a Europa nos anos 30 e da descoberta do verdadeiro Eu do principal personagem da obra que, a meu ver, dão um importante tom humanista a esta obra.

2 comentários:

Pedro disse...

Adorei ler o "Equador". Nunca mais me esqueço daquele momento em que eu conseguia sentir a areia entre os meus pés, em que mesmo depois de levantar os olhos do livro via o mar azul à minha frente. Gostei da história, mas o que me encantou foi mesmo conseguir transportar-me para S. Tomé. Lindo.

Este "Rio de Flores" acabei por nunca adquirir. Não me parece tão descritivo quanto "Equador", é verdade?

De qualquer forma, é uma questão de tempo até o apanhar! Se as personagens são assim tão boas, vou garantidamente gostar.

NLivros disse...

Gostaste do Equador, vais de certeza gostar deste.
Sim é descritivo. Quando leio MST, tenho a sensação de estar a ler Eça.
Exagero? Talvez! Mas é pela parte descritiva que isso me faz lembrar.
Este livro não é tão romântico, tão épico como Equador. Não tem aquele choques que Equador tem, mas é um livro belíssimo que pouco fica atrás de Equador.
Aconselho sem reservas.
Um abraço!