sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Portugal Rating AAA – Alexandra Silva Malta




Hoje em dia, quando tanto se ouve falar de crise, austeridade e mais troikas e o camandro, talvez seja importante pararmos e pensarmos se essas notícias, tão insistentemente veiculadas por uma comunicação social ela própria pouco isenta e ao serviço de muitos interesses económicos, não são colocadas de uma forma propositada com a finalidade de amedrontar, pois, é sabido que uma das tácticas desde sempre utilizadas por qualquer governo de qualquer civilização de qualquer era humana, foi o de sempre governar pelo medo, ou seja, subjugar o povo pelo medo ou, se quisermos e como alguém disse, conhecimento é poder, logo, convém manter o povo em estado obtuso, cheio de medo de algo que, ele próprio, desconhece.



Em todo o caso, nas épocas de crise, quando temos a tendência de bater em tudo o que é nacional, embora admita que os políticos nem porrada são dignos de merecer, aliás nem considero a classe política gente, mas, em todo o caso, é importante haver alguém ou alguma faccão que passe a mensagem de esperança num futuro melhor (já que o governo não o quer fazer), a esperança que tudo há-de passar e nos recorde que o nosso país tem 900 anos de História e um passado feito de glórias, mas também nos recorde que, mesmo com crise e com o epíteto de “piegas”, somos um povo de gente forte e com valor, que se vai destacando em todo o planeta.

E é precisamente o que Alexandra Silva Malta faz com este magnifico manual intitulado “Portugal Rating AAA”, numa clara alusão metafórica às agências internacionais de rating.

É um livro muito curto mas surpreendente nos factos que nos narra.

Sabiam que Doze Restaurantes Portugueses foram distinguidos, em 2012, no Guia Michelin? Que somos considerados o 27º melhor país do mundo? Que o cavalo lusitano é uma das três únicas raças de puro-sangue do mundo? Que um queijo português foi considerado o melhor queijo do mundo em 2011? Que a Sagrada Família em Barcelona, um dos monumentos mais visitados do mundo, é revestido com cortiça portuguesa? Que a TAP foi considerada, pelos próprios passageiros, a melhor companhia europeia? Que é um chefe português o chef executivo do primeiro hotel Armani no Dubai? Que é uma empresa portuguesa que fabricou 80% dos caiaques presentes nos Jogos Olimpicos?

São inúmeros casos de sucesso, a grande maioria desconhecidos do grande público e, de certo da classe jornalística, que nos demonstra que temos gente e empresas de muito valor, somos um povo que deu, dá e tem muito para dar e que merecemos ser vistos e tidos com respeito, partindo primeiramente de nós próprios.

É um livro que demonstra que não devemos baixar os braços face às dificuldades que o poder económico e político nos colocou, que devemos reagir em força e com esperança, pois o sucesso é possível e são os exemplos do livro que nos inspiram para vencer esses desafios.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Pior Livro – “Manhãs Gloriosas” de Diana Peterfreund


A Paula, do blog “Viajar pela Leitura”, blog que muito prezo, simpaticamente aceitou o meu convite para nomear o pior livro que leu até ao presente e o seu mimo vai para o livro “Manhãs Gloriosas” de Diana Peterfreund, baseado no argumento de Aline Brosh McKenna.

O Pior Livro
Eis as suas considerações:

Ora aqui está um livrinho que não aconselho a ninguém! Uma leitura que foi um verdadeiro suplício! E porque não desisti eu? Porque foi uma leitura proposta para o grupo de leitura conjunta no Destante. E para poder comentar, lá fiz eu este imenso sacrifício.

Temos então Becky, uma jornalista  que vê o seu sonho - ser produtora executiva - ir por água abaixo quando é despedida da estação onde trabalha.

Depois de alguma procura de emprego por parte da nossa personagem, é claro que ela consegue uma vaga como produtora executiva. É lógico que vai encontrar dificuldades e entraves ao seu sucesso, mas todos sabemos que vai conseguir e até o dito programa terá estrondosos níveis de audiência. Pois é isso que se espera deste romance, tão previsível que era até desnecessário lermos na sua totalidade!

As personagens são fracas, os acontecimentos não convencem o leitor e o discurso entre os personagens é, por vezes, hilariante e descabido!

Este é daqueles livros que não acrescenta nada à nossa vida, a não ser mesmo um par de horas de tédio durante a sua leitura.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Dona Flor e seus Dois Maridos – Jorge Amado


Escrito em 1966, Dona Flor e Seus Dois Maridos é um dos romances mais divertidos de Jorge Amado. Enorme sucesso, já transposto para o cinema, teatro e televisão, Dona Flor e Seus Dois maridos tem como pano de fundo a  Bahía, terra natal de Jorge Amado.

Flor, jovem e belíssima bahiana, excepcional cozinheira, amante apaixonada e versada nas artes eróticas, fica subitamente viúva do seu amado Vadinho, jogador inveterado e mulherengo, que todavia ama ardentemente a sua mulher e a seduz diariamente com inúmeros recursos sexuais e sua irresistível alegria.

Passado algum tempo e pressionada pelas amigas que só pensam em homens, Flor decide voltar a casar com Teodoro, um pacato e abastado farmacêutico (emigrante português) profundamente diferente do seu defunto marido (como do dia para a noite). Porém, Teodoro não é homem de fantasias sexuais, preferindo o tradicional, o que deixa Flor profundamente decepcionada nesse campo, pois jovem como é, os apetites são cada vez maiores... Até que um dia e na hora de deitar Vadinho aparece a Flor, começando aí um jogo de tentações sexuais e morais.

Um dos melhores romances de Jorge Amado. Violentamente autêntico e irresistivelmente fascinante, verdadeiramente empolgante e docemente inesquecível, Amado oferece-nos uma obra portentosa de cariz fortemente erótico e muito engraçada, desenhando também um fresco de costumes da Bahia da primeira metade do século XX. As tradições, sobretudo no aspecto religioso onde é bem perceptível a dualidade entre a tradição católica legada pelos portugueses e candomblé, de origem africana, aliada a um vocabulário rico que nos situa no contexto criado e narrado. 

De notar que o povo brasileiro tem em Jorge Amado um dos seus símbolos máximos, alguém que transportou mundo fora a cultura e tradições brasileira. Não só da sua Bahia, como de todo o Brasil. “Dona Flor e seus Dois maridos” expressam essa cultura e tradição.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Jardim do Éden (O) – Ernest Hemingway


Hemingway é considerado, e justamente, como um dos monstros sagrados da literatura universal. Pese embora eu não seja um grande admirador da sua obra, admito que tem um dom maravilhoso, pois através da escrita consegue fazer passar a sua visão das coisas, ou seja, tal como o nosso Eça, consegue descrever na perfeição objectos, cores, sabores e cheiros. No entanto, "O jardim do Éden" fica muito aquém das suas melhores obras.

Baseado em factos reais acontecidos com o próprio Hemingway na Riviera francesa em 1926, quando, com a sua mulher Hadley, aí passou o Verão na companhia da amiga comum Pauline, conta-nos uma história esquisita e surreal passada em França, envolvendo um casal e uma outra mulher que entra de uma forma repentina nas suas vidas.

Romance póstumo publicado em 1986 cerca de 25 anos após o suicídio de Hemingway, desde logo esta obra ficou imersa em controvérsia dada a forma como foi terminada e posteriormente editada e publicada. Sabe-se que Hemingway trabalhou cerca de 15 anos nesta obra, tendo escrito 200.000 palavras. Colocou-o de lado para escrever outros  romances, no entanto, o certo é que nunca o terminou e, aquando da sua morte, esta foi uma das várias obras que deixou por terminar. Já nos anos 80, Tom Jenks (penso que o seu editor), atirou-se ao trabalho de revisão e, quando terminou, o livro continha as 70.000 palavras hoje compõem o romance. Podemos então questionar, será mesmo a obra que Hemingway idealizou, pese embora Jenks tenha vindo a público jurar que se limitou a cortar e a rearranjar?

Em todo o caso, seja esta obra inteiramente Hemingway ou não, o certo é que não gostei. O sentido descritivo continua vivo e intacto e até entendo que o autor quis construir o romance baseado na sua vivência pessoal nos turbulentos anos 20,  no entanto, as descrições não têm grande interesse, as situações são enfadonhas e os diálogos são demasiado surreais para o meu gosto, parecendo tudo fazer parte de um sonho. Das várias obras que li de Hemingway, esta foi a que menos gostei e a que menos saudade me deixou.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Pior Livro – “Viriato, o filho rebelde” de Sónia Louro



Após mais uma listinha de livros que devem ser lidos que há dias foi divulgada por pseudos críticos literários, lista essa que se vem juntar a n delas que por aí pululam, algumas delas já transpostas até para livro que se pretende de culto, eis que me surgiu uma ideia: Criar uma lista dos piores livros, daqueles que não devem ser lidos, daqueles que servem apenas para bibelôt ou, em casos mais desesperantes, para atiçar o lume ao carvão numa churrascada.

E vai daí, eis que surge uma nova rubrica do Blog NLivros. Vou convidar quinzenalmente ou mensalmente, logo se vê, bloggers e não só, para referirem qual o livro que não gostaram, qual o livro mais execrável que leram, no entanto, do porquê, pois não vale se for apenas por embirração.

E o primeiro vou ser eu. Auto-convido-me para mencionar o pior livro que li.
O Pior Livro

E o galardão vai para “Viriato, o Filho Rebelde”, de Sónia Louro.

Lido nos primeiros meses de 2009, foi o meu primeiro embate com a escrita de Sónia Louro. Confesso que a sinopse me agradou, e julguei que iria encontrar uma obra que, em jeito de romance histórico, divulgasse o quotidiano dos lusitanos e os seus costumes, assim como uma estrutura que narrasse os acontecimentos que opuseram a tribo dos lusitanos aos romanos.

Qual quê? Isso queria eu!

O que eu li foi uma amálgama de episódios com pouca ou nenhuma ligação entre si, incoerentes e, mais grave, o trajecto de Viriato está tão mal criado, que a autora consegue em 3 ou 4 páginas resumir uma viagem que durou anos e que, supostamente, teve uma enorme influência no líder que Viriato viria a ser.

Mas se fosse só isso até que nem era mau.

Nop, há mais. Os usos e costumes? Nicles, batatóides! O contexto histórico? Para quê, isso é para meninos! E é hilariante a forma como a autora descreve tradições de uma forma muito ligeira, como se fosse uma festazita sem importância, quando, na realidade, se tratava de tradições religiosas de uma grande seriedade. Depois, há um exagero nalgumas palavras sórdidas que a autora usa, abusa e volta a abusar até causar exaustão e enjoo.

No fim, sabia pouco da época de Viriato? Temos pena, pois fiquei a saber praticamente o mesmo porque este livro nada ensina. Aliás, para além de nada ensinar, até nos dá informações erróneas. É daqueles livros que nunca deviam ter sido publicados, ou então merecia um maior cuidado da autora que posteriormente até provou que sabe escrever, pois acabei por ler “O Cônsul Desobediente” e gostei bastante.




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Uma Vida Francesa - Jean-Paul Dubois


Jean-Paul Dubois é um conhecido jornalista e autor de diversos romances de sucesso em França que tem nesta obra “Uma Vida Francesa” o seu maior sucesso e aquele que lhe deu em 2004 o prémio Femina, um dos maiores galardões literários franceses.

A história é simples, tratando-se, simplesmente, da história de uma típica família francesa com todas as vicissitudes e idiossincrasias dos seus membros e do que os rodeiam. No entanto, debaixo dessa aparente singeleza, o autor traça-nos a História de França dos últimos 50 anos e, quanto a mim, essa é a principal beleza do romance.

Dividido em capítulos que correspondem a cada um dos presidentes da república, surge-nos Paul Blick, uma criança que acaba de perder o irmão mais velho. O mote é lançado com esta ocorrência, ficando sempre no ar que Paul sofre do síndroma de Peter Pan, recusando-se a crescer e a encarar a vida adulta.

A partir daí Paul sente que a vida familiar se desmorona. Os pais caem numa letargia que irá durar toda a vida e Paul acaba por descobrir, ou ir descobrindo o mundo por conta própria.

Assim, numa escrita fluída que nos agarra logo desde as primeira páginas, Jean-Paul Dubois constrói um anti-herói, uma criança, um adolescente, um jovem e adulto que nunca cresce, mas que vê as “coisas” evoluírem à sua volta, “coisas” essas que acabam por montar um mosaico da sociedade francesa dos últimos 50 anos.

Cada capítulo representa uma evolução. Sendo dividido por presidentes, em todos esses mandatos são visíveis as mudanças e mentalidade que marcam esses tempos. O autor vai expondo então as suas percepções e críticas às políticas socio-económicas, em simultâneo que são perceptíveis os seus desencantos com a classe política.

Um romance belíssimo, tocante, terno e divertido, onde a sensibilidade flui página a página, acabando nós mesmos por nos sentirmos identificados com o protagonista, pois todos nós temos uma vida, boa ou má, mas uma vida.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Opinião do Leitor - A Brisa do Oriente

A Mónica Pinho Silva foi uma das vencedoras do passatempo "A Brisa do Oriente" que o Blog NLivros, em conjunto com a editora Saída de Emergência, efectuou no passado mês de Julho.


Simpaticamente aceitou o meu repto para que escrevesse uma opinião quando terminasse a leitura da obra. Eis o resultado.



Esta obra, dividida em dois volumes de soberba qualidade, narra a história de Umberto de Quéribus, um jovem monge cujo percurso de vida semeado de perigos e inesperadas reviravoltas forçam o seu crescimento e a perda da sua candura infantil. A autora promove constantemente o contacto de Umberto com situações extremas que lhe permitem analisar o sentido da sua vida e põem em causa a manutenção da sua fé.

Como pano de fundo de toda a narrativa, destaca-se uma notável caracterização da Europa Medieval do séc. XIII, uma época delineada pela violência e intolerância religiosa. A origem da Inquisição, descrita no segundo volume, fortalece ainda mais esta perceção, na medida em que o clero aumenta o seu poder sobre a vida e a morte dos seus súbditos. Toda a trama é descrita de uma forma intensa, empolgante e sem pudores desnecessários, retratando fielmente uma época negra da História da Humanidade.

Ao longo desta narrativa encontra-se patente um paralelismo entre os membros do clero que promovem este poder desmedido, não apresentando quaisquer valores éticos ou morais e potenciando atos hediondos, e aqueles que ousam questionar estas atitudes em prol do que consideram correto. A desilusão de Umberto perante as ações dos que se consideram os “verdadeiros cristãos” e da crueldade, ganância e insensatez da igreja católica, fornece-lhe uma nova perceção do mundo que o rodeia. Assim, Umberto, ao longo da sua jornada, interroga-se acerca da legitimidade de perseguir crenças distintas – ditos “hereges” – quando os seus detentores apenas pretendem viver uma vida pacífica e muitas vezes mais moral do que o próprio clero. Neste sentido, surge uma questão bastante atual: será que crenças diferentes não poderão coexistir pacificamente? Tudo isto facilita o distanciamento de Umberto da obediência cega e dos ensinamentos rígidos que apresenta no primeiro volume, culminando numa consciência mais abrangente da sociedade em que vive.

A autora é também exímia na criação de personagens com as quais se torna fácil desenvolver uma relação, na qual sofremos com as injustiças e as perseguições aos inocentes, perpetradas em prol do fanatismo religioso, e rejubilamos quando os planos dos vilões fracassam. De igual modo, esta obra possui o típico romance impossível mas com uma pureza que nos faz torcer por um final feliz. No fundo, esta é uma narrativa acerca, não apenas da capacidade de ultrapassar as injustiças de uma era, mas principalmente do sentido profundo da amizade e do amor.

Na minha opinião, o desfecho foi talvez um pouco previsível e algo banal, pois considero que o resto do argumento teria potencial para um final com maior impacto. Contudo, não deixa de constituir um romance histórico verdadeiramente notável, cuja leitura recomendo vivamente. 

Obrigado Mónica pela brilhante opinião. Fiquei contente por a leitura te ter agradado e convido todos aqueles que venceram livros nos passatempos do blog, que enviem as opiniões para serem posteriormente publicadas.