segunda-feira, 16 de julho de 2012

Nero – Vincent Cronin


Nero Claudius Cæsar Augustus Germanicus nasceu em Dezembro de 37 d.C. e foi imperador do Império Romano durante 14 anos, tendo sucedido ao seu tio Cláudio aquando da sua morte por envenenamento.

Figura controversa, até pela forma como subiu ao poder, está associada a inúmeras acções de uma barbaridade extrema a fim de satisfazer o seu enorme ego. A ele é atribuída a ordem de assassinato da sua mãe, a famosa Agripina, ela própria implacável e a principal responsável da subida de Nero ao poder. A sua primeira esposa, Cláudia Octávia, filha do imperador Cláudio, também ela assassinada, assim como o irmão desta, Britânico, também estão associados a Nero, assim como a sua segunda esposa, Popeia Sabina, esta morta a pontapé pelo próprio Nero. O devastador incêndio que deflagrou em Roma durante três dias ou a brutal perseguição aos cristãos que serviam de entretenimento nas arenas e tantos outros eventos terríveis que deixaram para a História uma imagem de crueldade e tirania.

Em todo o caso, a questão que poderemos colocar é: foi realmente assim? Deve-se a Nero todas essas acusações, esteve de facto Nero por detrás desses horríveis actos?

Este livro, de uma forma muito cuidada e coerente, responde a todas essas questões.

Confesso que a História de Roma sempre me aborreceu. Nunca fui um grande entusiasta desse magnífico império. Já li muito sobre o império romano e, embora admita o meu fascínio pelo seu legado, as suas intrincadas teias e influências políticas sempre me aborreceram, sobretudo os obscuros jogos políticos e de interesses que o Senado mantinha, das conspirações e demais excessos.

Esta obra não escapa a essa teia.

Agripina toma desde o início a preponderância que a História lhe atribui. É ela a principal protagonista a desbastar o caminho da subida ao poder do seu jovem filho Nero.

A história é-nos narrada por um irmão de Lúcio Séneca, célebre pensador e filósofo romano que foi o tutor de Nero.

É através das suas memórias que o trama de Nero se vai desenrolando e o autor, de facto, faz um trabalho notável de pesquisa e posterior escrita romanceada da época e dos acontecimentos.

Não esquecendo que se trata de ficção, Cronin, não descura o mínimo pormenor.

Desde a infância de Nero até à sua morte, toda a vida de Nero é aqui escalpelizada, não se omitindo nenhum facto. No entanto o autor não se limita a narrar o que a História refere. Ele, à luz da mentalidade e do contexto da época, emprega uma congruência que me surpreendeu e que dá ao texto verosimilhança que nos transporta e faz crer que Nero agiu daquela forma e não, se calhar, como a História apregoa.

Exemplo disso é os acontecimentos que dão origem ao incêndio de Roma. Durante muito tempo a História defendeu ser o mesmo da responsabilidade de Nero, depois que Nero tocava harpa enquanto observava a devastação da cidade. No entanto, provavelmente, não foi bem assim. E porquê? Simplesmente porque Nero agiu antes e posteriormente de determinada forma, o que impede que ele tivesse procedido de forma insana que a História refere.

Em suma, um livro algo denso devido à imensa informação nele contida, que nos mostra um Nero algo diferente daquele que a História apregoa. De sublinhar a imensa importância e influência de alguns personagens na vida de Nero e o quanto ele foi responsável pelo futuro desse grande império que, nessa altura, já demonstrava muitos sinais de decadência.

3 comentários:

WhiteLady3 disse...

A história de Roma e romanos no geral nunca foi coisa que me interessasse, mas depois estudei a cultura material e oh deuses como as sigillatas são as cerâmicas mais fofinhas do mundo! A arqueologia, talvez por não se centrar tanto na história política e social, foi o que contribuiu para que gostasse da época e da civilização. Como depois o Ocidente pode regredir tanto ainda hoje me espanta, mas isso é outra história...

Por acaso estive para comprar este livro no outro dia e agora arrependo-me. Eu sou daquelas pessoas algo cépticas quando dizem que tal personagem foi a MAIS terrível que alguma vez existiu, sobretudo se pensarmos que a história é algo tendenciosa, sendo geralmente escrita pelos vencedores e sim, há personagens que foram mesmo muito más mas uma dose de cepticismo quando se estuda não fez mal a ninguém e ajuda a abrir horizontes, questionar o que se toma por garantido. Mas dizia, Nero sempre foi uma daquelas personagens que sempre pensei talvez não fossem tão más como as pintam. Terá perseguido cristãos? Sem dúvida, mas não foi o único. Quanto ao incêndio, lembro-me de numa aula ou documentário, terem dito que só lhe foi apontada a culpa porque ele depois mostrou um projecto ambicioso para o local. Supostamente, incêndios eram o que mais havia em Roma, sobretudo nas partes pobres da cidade onde tinham de construir em altura, para acomodar a gente que acorria à cidade, em materiais que não seriam os mais adequados (muitas vezes era tudo em madeira) e inflamáveis. Como era tudo tão precário, rapidamente o fogo alastrava e não havendo corporações de bombeiros nem meios adequados, o fogo podia durar dias.

Acho que é daquelas coisas, o Império já estava a entrar em decadência, há que buscar um bode expiatório. :/

NLivros disse...

Olá White.
Muito interessante o teu comentário!
Eu penso que a regressão ocidental tem a ver com a influência da igreja católica durante toda a idade medieval. Foram centenas de anos a destruir todas as influências possíveis, quer fossem romanas, gregas ou muçulmanas.
Em todo o caso admiro o legado desse grandioso império que, até hoje, foi o que mais durou. Foram 2500 anos de Império romano e isso é espantoso.
Eu gostei deste livro. Trata-se de uma excelente reconstituição histórica o que, por si só, é de louvar. Para além disso o autor é honesto na forma como desenha o trajecto e o perfil de Nero. Em parte alguma sentimos que é parcial, longe disso. Limita-se a apresentar os factos com a lógica que os próprios actos de Nero ajudam a criar.
Sobre o incêndio, tens toda a razão. Ele deflagrou numa zona onde apenas existiam armazém de produtos altamente inflamáveis e propagou-se a uma velocidade enorme. Durou três dias e destruiu grande parte da cidade. Depois o bode expiatório foi precisamente... Nero.

WhiteLady3 disse...

Sim, a Igreja tem alguma culpa, sobretudo no que a banhos diz respeito. :D Os povos bárbaros também têm uma quota parte de culpa, mas pronto.

Tenho de ver então se arranjo o livro. :)