terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Alma das Pedras (A) - Paloma Sanchez-Garnica


Eis um excelente romance passado em duas épocas distintas, mas que nos situa em plena Era medieval onde a violência espreitava a cada esquina.

A autora, que de facto consegue recriar de uma forma brilhante aquela época, situa-nos nos sécs. IX e XII. 300 anos separaram os acontecimentos narrados mas o objectivo é único: o túmulo de S. Tiago onde, dizem, está sepultado um dos apóstolos de Jesus.

O romance inicia-se em 824 com a descoberta dos restos mortais do apostolo Tiago, mas como se pode ter a certeza disso se não há sequer nenhuma prova de o apostolo ali ter estado em vida?

Mas isso importa?

É através desse facto que nasce a lenda e a região começa a ganhar notoriedade, pois torna-se num dos lugares de peregrinação da cristandade, ocorrendo ali milhares de peregrinos para rezarem diante do túmulo do apostolo.

Porém, no seio daqueles que criaram o mito, há o arrependimento que corrói e que os leva ao dilema entre a razão e o coração. Nasce assim um documento que narra toda a verdade, no entanto o conhecimento dessa verdade só será efectiva se for a vontade de Deus e esse pergaminho é encerrado algures bem longe… e nasce a lenda que irá ocasionar uma busca por esses pergaminhos.

Independentemente de ter achado a história de fundo algo rebuscada, por vezes forçada e até, em diversas ocasiões, sem grande fundamento e até interesse, o certo é que adorei a forma como a autora recriou a época.

A violência comum está bem vincada, conseguimos sentir as dificuldades das pessoas e até não escapa o sentido de olfacto quando a autora refere o fedor dos corpos e dos ambientes carregados, onde o cheiro a suor se misturava aos de urina e de fezes.

Por mim o romance vale imenso pelo fresco criado, pelas imagens e outros sentidos que a autora consegue transmitir. Não pela história que, repito, é algo rebuscada, não se percebendo bem a obsessão de certos personagens e a forma insistente, quase cega, como perseguem um objectivo, sendo então o final mais do que previsível.

Apreciei também o estilo da escritora. Embora tenha sentido falta de alguma descrição, um certo desenvolvimento descritivo, o estilo é simples e objectivo, as mudanças de épocas bem escolhidas, fazendo com que os factos da história se interliguem.

Um livro que foi best-seller em Espanha e que merece destaque pela qualidade que apresenta.

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