quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Balanço Pessoal de 2010

À semelhança do efectuado em 2009, findo 2010 é altura de todos os balanços e, pela segunda vez, vou fazê-lo em relação aos livros lidos em 2010 (nunca senti qualquer curiosidade nesse sentido).

Conforme já transmiti em diversos blogues, nunca dei grande importância à quantidade de livros que leio anualmente. Primeiro porque não vejo grande interesse (muito menos importância) nisso, depois porque gosto de analisar os livros que leio, gosto de analisar o tema antes de iniciar o livro e por variadíssimas ocasiões sinto necessidade de efectuar uma pesquisa histórica após a leitura do livro.

Assim, à semelhança do que fiz o ano passado, resolvi ir apontando o nº de páginas de cada livro, obtendo assim alguns dados bem interessantes: Li mais do que no ano passado, as obras em si foram bem melhores e li também mais páginas, ou seja, um ano bem produtivo.


Livros Lidos: 61
Páginas lidas: 19.856
Média diária (páginas): 56
Média Livros mês: 5
Média Página/Livro: 325


Meu Topo:


O Mais Prazeroso:
Sutree – Cormac McCarthy (adoro todos os livros dele, para mim é talvez o melhor escritor da actualidade)

Mais Divertido
Flashman - George MacDonald Fraser (gargalhadas de principio ao fim de tanta hilaridade. Para além disso, muito bem escrito)

Trabalho a Ler
O Fim do Império Romano - Adrian Goldsworthy (Um livro que de tanta informação, tem de ser usufruído com muita calma. Não pode nem deve ser um livro apenas para consumir)

Decepção
Longe do Meu Coração – Júlio Magalhães (Um Livro claramente feito à pressa com o sentido único de lucro. Efectuei uma entrevista ao autor, já após a minha opinião, que ainda não foi respondida. Compreendo porquê)

Não consegui acabar
Os Thibault – Roger Martind du Gard (Considerado um clássico, mas e pela segunda vez fiquei-me pelo primeiro volume. Uma obra que hoje em dia nada diz)

O Pior
O Simbolo Perdido - Dan Brown (Simplesmente uma fraude, vulgar, sem interesse)

A Revelação
David Soares (Nunca tinha lido nada de David Soares e este ano constatei ter a literatura portuguesa um autor de excelência que, dada a sua juventude, é sinal que a letras portuguesas têm o futuro garantido)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conto Vencedor - Divulgação

Já foi encontrado o vencedor do Concurso de Contos realizado pelo blog: "Que a Estante nos Caia em Cima".


O CARROSSEL - João Manuel da Silva Rogaciano

O recinto da feira fervilhava de vida. Os miúdos e graúdos atropelavam-se na ânsia de percorrerem todas as atracções: o labirinto; os carrosséis; os carrinhos-de-choque; a barraquinha de tiro ao alvo…

- Venham dar uma voltinha no carrossel!... Universo, o melhor carrossel deste recinto!! Meninos e meninas… - gritava o Sr. Humberto, o dono do carrossel Universo. – Estrelas, planetas, cometas, tudo a girar! Venham, meninos e meninas...

Nas bilheteiras do carrossel, onde o Sr. Pereira trocava o dinheiro por fichas, formava-se uma longa fila. Alguns putos, mais descarados, furavam a ordeira linha e passavam à frente dos outros.

Soava a forte campainha, que se fazia ouvir acima da balbúrdia da feira, anunciando que a volta tinha terminado. Os miúdos da próxima volta invadiam o carrossel, como feros índios, em pé-de-guerra, ao ataque. Contrariados, e literalmente expulsos pelos recém-chegados, os catraios da volta anterior saiam dos assentos. Alguns miúdos permaneciam nos seus lugares, segurando de forma visível, na sua mão, a ficha que lhes daria acesso à próxima volta e que evitaria a sua expulsão pelos índios invasores. Os índios ocupavam os lugares livres, soltando gritos de guerra a plenos pulmões. A campainha dava então três toques seguidos, sinal que o carrossel iria iniciar uma nova volta. O filho do Sr. Humberto, um adolescente com ar de fuinha, cabelo rapado, piercings nas sobrancelhas e brincos nas orelhas, dava a sua volta pelos assentos do carrossel e recebia, das mãos dos miúdos, a ficha que lhes permitia efectuar aquela viagem. Rudolfo - assim se chamava o fuinha dos piercings - aproveitava para espetar uns violentos pontapés nos assentos do carrossel. Nunca se percebeu bem porquê: se fazia isso por detestar o seu trabalho, se para assustar os barulhentos putos que ali seguiam na sua volta, ou se era simplesmente por pura maldade. Talvez pelo facto de ser obrigado a passar ali todos os dias da sua juventude, enquanto os outros adolescentes iam à escola e tinham a sua vida social. O fuinha era obrigado a trabalhar de manhã à noite. Se não estava a recolher fichas no carrossel, estava a desmontar o carrossel, a inspeccionar o carrossel, a montar o carrossel, o carrossel, o carrossel, …

Para além dos pontapés de Rudolfo, o carrossel também era atingido pela fúria dos miúdos, que se agarravam aos varões e os abanavam violentamente. Outros, gravavam na madeira dos assentos, as suas iniciais. Alguns, mais velhos, divertiam-se, grafitando os bancos do carrossel, pela calada da noite, quando a feira já tinha sido encerrada. Por vezes, os feirantes apanhavam os artistas e obrigavam-nos a limpar as obras de arte acabadas de fazer e aproveitavam para lhes dar uns sopapos.
E, o que devo eu pensar? Já acompanho este carrossel há cerca de vinte anos, quando o Sr. Humberto o comprou a um feirante espanhol e o remodelou, mudando-lhe o nome de “Los Animales Salvajes”1 para Universo e trocando os bancos com representações de animais - já muito carcomidos e partidos - por novos bancos que representavam estrelas, planetas, cometas, satélites, naves espaciais. A miríade de corpos espaciais foi feita por encomenda, por um carpinteiro amigo do Sr. Humberto.

A pintura ficou a cargo da D. Amélia, a esposa do dono do Universo. E que dotes de pintura a pobre senhora tinha – emprego esta expressão, porque a D. Amélia faleceu há dois anos, deixando todos nós mais pobres.

Mas dizia eu, que nasci há vinte anos, na figura de um belo planeta azul, decorado pela mão da D. Amélia. Aliás, a D. Amélia decorou todo o carrossel com tanta destreza e bom gosto, que eu me sentia extasiado ao ver em roda de mim todo aquele magnífico universo, limpo, bem-cheiroso, que girava, girava…

Já conheci muitos recintos de feiras, muitas pessoas, muitos miúdos. Mas deixem-vos dizer um segredo: quem vê um recinto de feira, vê todos. Quem vê a populaça de uma feira, vê todas. São todos iguais entre si. Corpos amorfos procurando um pouco de alegria artificial, nesta vida rotineira...

Agora, com tanta volta, com tanto barulho todas as noites, com o desmonta aqui, monta ali, os pontapés do fuinha, os grafiti, a sujidade que se acumula e se entranha por mim e pelos restantes corpos espaciais do Universo, sinto-me tão mal, tão agoniado que só me apetece sair daqui. Sair e ir para um local sossegado, relaxante. Longe desta extenuante rotina. Sem fuinhas, sem índios em pé-de-guerra, sem grafiti, sem poluição. Longe do rodopiante e enorme Universo. Gostaria de ingressar num Universo paralelo... Numa realidade alternativa... Tudo seria preferível à vida que levo!...

Apetece-me gritar. Gritar bem alto, acima do barulho da feira, acima da campainha do carrossel, para que todos possam ouvir:

- Sr. Humberto, fuinha, Sr. Pereira…Alguém...Sou eu, o planeta azul… Por favor, parem o Universo. Quero apear-me!

FIM
João Manuel da Silva Rogaciano
jrogaciano@gmail.com

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Novidades "Publicações Europa-América"

Título: História Concisa de Como Se Faz a Guerra
Autor: General Loureiro dos Santos
Colecção: Estudos e Documentos
Preço: 25.50€
Pp.: 248

Sinopse: No seu novo livro, o General Loureiro dos Santos traça uma súmula da história da guerra ao longo dos tempos, da época pré-clássica à actualidade, condensando informações pertinentes que convertem esta obra num manual ímpar de polemologia.
Abordando metodicamente vários aspectos dos conflitos bélicos, o autor debruça-se em primeiro lugar sobre as influências da técnica na ciência e na arte da guerra e sobre os elementos essenciais de combate.
Em seguida, o autor expõe globalmente a evolução dos sistemas de coacção militar, atendendo às várias épocas históricas, dinâmicas e meios técnicos, culminando na aturada análise de conflitos da actualidade, como a Guerra do Afeganistão e a Guerra do Iraque, e de circunstâncias modernas que condicionam o aparecimento de novos conflitos em peculiares teatros de operações, como a guerra na era da informação .


Título: Por Entre Grãos de Areia
Autora: Josephine Cox
Colecção: Contemporânea
Preço: 25.90€
Pp.: 384

Sinopse: Nos anos 50, em Dorset, duas vidas recomeçam numa vila à beira-mar.
Kathy Wilson tem um sonho: transformar Barden House, a sua casa junto à praia, num ninho de paz e serenidade. E, nesse Verão, ela tem cada vez mais curiosidade no homem solitário que vê passear à beira-mar.
O seu nome é Tom Arnold e West Bay é o seu refúgio de uma vida cruelmente destruída pela tragédia. Atraída por este misterioso homem, Kathy sente que a sua vida vai mudar para sempre.
Mas os segredos e os fantasmas continuam a assombrar Tom e Kathy. Estarão os dois dispostos a aceitar o amor que os une quando o passado ameaça a sua frágil e nova vida?



Título: Uma Ponta de Verdade
Autor: Jeffrey Archer
Colecção: Obras de Jeffrey Archer
Preço: 25.90€
Pp.: 384

Sinopse: Uma Ponta de Verdade é o mais recente livro de Jeffrey Archer, autor que tem deliciado milhões de leitores. Durante seis anos, ao longo das suas viagens pelo mundo, o autor reuniu várias histórias verídicas e inspirou-se também nos seus escritores de contos favoritos (F. Scott Fitzgerald, Maupassant e Somerset Maugham, entre outros) para escrever este livro, sempre com uma ponta de verdade.
Com uma aptidão natural para escrever histórias elegantes, espirituosas e divertidas, Jeffrey Archer é um mestre da caracterização e do suspense e tem um grande talento para reviravoltas inesperadas e surpreendentes.



Título: A Velhice do Padre Eterno
Autor: Guerra Junqueiro
Colecção: Clássicos
Preço: 19.90€
Pp.: 224

Sinopse: Esta obra, que suscitou grande polémica no momento da sua publicação em 1885, é apontada como monumento da crítica anticlerical e como denúncia do farisaísmo. Uma leitura atenta revela a qualidade da combatividade e facilidade de caricaturar de Junqueiro, um estilo que lhe valeu a admiração dos seus contemporâneos.
A Velhice do Padre Eterno é inquestionavelmente um clássico da literatura portuguesa de uma das figuras incontornáveis da nossa literatura.
Esta é uma edição especial com as ilustrações originais de Leal da Câmara. Guerra Junqueiro nasceu em 1850 no seio de uma família abastada. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, acabou por exercer alguns cargos administrativos, tendo sido inclusivamente ministro plenipotenciário de Portugal em Berna, na Suíça (1911-1914). Durante toda a sua vida foi um defensor do liberalismo e desde cedo estreou-se na vida literária, publicando inúmeras obras, na sua maioria poesia. Faleceu em 1923.




Título: A Rainha dos Malditos - II
Autor: Anne Rice
Colecção: Obras de Anne Rice
Preço: 16.65€
Pp.: 260

Sinopse: O segundo volume d’ A Rainha dos Malditos, a continuação de Entrevista com o Vampiro e d’ O Vampiro Lestat.
Após ter despertado Akasha, a mãe de todos os vampiros, do seu sono de seis mil anos, Lestat ignora que corre perigo e que, num concerto em São Francisco, há entre os fãs centenas de vampiros dispostos a destruí-lo por ele ter revelado a condição dos seus semelhantes.
Um misterioso sonho é partilhado por um grupo de homens e vampiros. Quando todos se aproximam, o sonho torna-se mais claro e tudo aponta para uma tragédia indescritível.



Título: As Novas Aventuras da Cadeira-dos-Desejos – A Terra dos Gigantes
Autor: Enid Blyton
Ilustrações: Erica-Jane Waters
Colecção: As Novas Aventuras da Cadeira-dos-Desejos
Preço: 9.34€
Pp.: 128

Sinopse: A Jessica, o Tiago e o Desejoso vão dar parar à Terra dos Gigantes, onde tudo é… GIGANTE! Até a Cadeira-dos-Desejos.
Mas os Gigantes querem ser os donos da Cadeira-dos-Desejos e os pequenos amigos não querem perdê-la, pois, sem ela, ficarão presos naquela terra enorme e nunca mais voltarão para casa. Como hão-de escapar os três amigos sem serem esmagados por uma pata gigante?
Esta é a quarta das Novas Aventuras da Cadeira-dos-Desejos, criada por Enid Blyton, a autora de personagens tão famosos como "Os Cinco" e o "Noddy".





Título: A Farmácia Verde
Subtítulo: O Herbário Prático
Autor: James A. Duke
Colecção: Diversos
Preço: 19.90€
Pp.: 304

Sinopse: Desde este herbário prático ao seu livro mais vendido, A Farmácia Verde, James A. Duke, Ph. D., uma das maiores autoridades em plantas, revela os factos sobre praticamente todas as plantas que curam e que se encontram hoje disponíveis no mercado: a sua descrição, história, usos terapêuticos, propriedades medicinais, medicamentos de prescrição médica equivalentes, opções de dosagem, avaliação da eficácia e segurança e precauções.
O inimitável tom popular do Dr. Duke e a sua simpatia brilham ao longo de A Farmácia Verde – O Herbário Prático, fazendo desta uma obra de leitura simultaneamente prática e divertida. Este manual, uma das referências mais completas e extensas deste tipo sobre plantas, foi compilado a partir da selecção dos milhares de entradas presentes na base de dados do Dr. Duke, sobre plantas medicinais em todo o mundo. A base de dados, que o Dr. Duke começou a construir durante a sua carreira enquanto botânico chefe no USDA, é um projecto de uma vida e tornou-se um recurso fundamental de referência para os botânicos, especializados em plantas medicinais, em todo o mundo.



Título: Orações para Principiantes
Autor: Richard Webster
Colecção: Portas do Desconhecido
Preço: 17.50€
Pp.: 176

Sinopse: Descubra como falar com a sua alma.
Um guia singular e enriquecedor sobre o imenso poder da oração.

O simples acto da oração pode incentivá-lo e proporcionar-lhe forças em tempos difíceis, responder a perguntas da vida, ajudá-lo a fomentar uma ligação pessoal com um poder mais elevado e encher o seu coração de conforto e paz profundos. Mas como é que muitos de nós fomos ensinados a orar? A arte de orar com eficácia é totalmente explorada, neste guia singular, pelo autor premiado Richard Webster.
Quer se esteja a dirigir a Deus, ao Universo ou ao seu Eu Superior, esta obra oferece-lhe as ferramentas para se ligar ao divino. O autor oferece técnicas fáceis para alcançar um estado de mente que o leve a uma troca espiritual significativa. Também descobrirá como a oração está associada à magia, como reforçar as orações com a energia dos chakras, criar um espaço sagrado, rezar com mandalas e comunicar com os anjos.
Webster também partilha testemunhos fascinantes —-- desde histórias pessoais a experiências científicas comprovadas — que iluminam o imenso poder da oração.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Cândido – Voltaire


O Iluminismo ficou marcado pelo “Principio da Razão Suficiente” de Leibniz que considerava as “coisas são como são e não podem ser de outra maneira”. Esta corrente significava que o mundo real é o melhor dos mundos possíveis, logo, não aceitar o que o mundo nos dá é ir contra o poder criativo de Deus.

Em “Cândido”, Voltaire destrói esse principio, expondo-o ao ridículo e aqueles que acreditavam nesse principio ou dele se serviam.

Todo o livro é um ataque cerrado não só a essa corrente, como também a todos os que se serviam do poder para dele abusarem.

Inicia-se com um simples e cândido beijo e a consequente expulsão de Cândido do castelo onde vivia. Começa aí um périplo que o levará a conhecer praticamente todo o mundo civilizado conhecido, sofrendo desgostos, perdas e acidentes, enquanto que à volta dele a natureza se rebela ou o homem se rebela por ela…

É também visível a imensa desilusão com o ser humano. A certa altura, diz Cândido: “julgam possível que os homens sempre se hajam mutuamente massacrados, como o fazem agora e que sempre tenham sido mentirosos, velhacos, pérfidos, ingratos, salteadores, fracos, levianos, cobardes, invejosos, gulosos, bêbados, avaros, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, debochados, fanáticos, hipócritas e idiotas?

Mas a paródia continua implacável.

Os países que na altura dominavam o mundo são descritos de uma forma extremamente negativa. Para além de estarem mergulhados no fanatismo religioso, em todos eles sobressai a hipocrisia, a intolerância e a maldade. Portugal é visto como um país onde só se sabe queimar pessoas por tudo e por nada, ao ponto de Cândido se arrepiar quando, mais tarde, navega ao largo da costa portuguesa.

Até a literatura é ferozmente criticada e Voltaire tem a coragem de abordar alguns clássicos da Antiguidade classificando-os como aborrecidos e lixo.

Uma obra monumental, extremamente actual, que sublinha as doenças sociais do ser humano e onde, sinceramente, não vejo grandes diferenças do tempo de Voltaire com o actual. Ou seja, passados quase 300 anos, tudo está na mesma e quer-me parecer que daqui a 2000 anos nada se tenha alterado, pois e conforme se destaca na obra, a natureza humana não presta.

Luz Miserável (A) – David Soares


David Soares é, quanto a mim, um dos melhores escritores portugueses.

Dono de uma forma de escrever que combina História com ficção e fantasia, ele sabe construir mundos e planos completamente antagónicos com a realidade, colocando os seus personagens a agirem nesses planos como se da realidade se tratasse.

Foi assim no excelente “O Evangelho do Enforcado” e na “Conspiração dos Antepassados”, obra na qual, diga-se, David Soares expressa todo o seu génio criativo e, não sendo o livro que mais gostei, é provavelmente o seu melhor livro.

“A Luz Miserável” é um conjunto de três contos, todos sem ligações, que nos situam em ambientes exóticos, profundamente negros e até sádicos e violentos.

Diferente dos registos dos seus romances, estes contos estão cheios de imagens insanas e provocadoras, resultando em sensações de náuseas e nojo, algo que apenas havia sentido na obra do Marquês de Sade.

Difícil dizer se gostei ou não.

Dos três contos, a Luz Miserável foi o que mais gostei. Senti-me atraído pelo ambiente macabro e gótico, pelos três estranhos personagens alucinados, no entanto não gostei dos laivos de fantasia com que todas as histórias terminam. Nesse aspecto achei que o autor deita a perder o que vai construindo. É algo como uma espécie de construção de um plano baseado na realidade que é posteriormente destruído por factos fantasistas. No entanto, questiono, qual o plano real?

Penso que é uma obra destinada a um certo grupo de leitores. Pessoalmente não aprecio o estilo.

Destaco por último a edição. Páginas negras com letras brancas que realcem o tema.


Deuses e Legiões – Michael Curtis Ford


Embora não seja um grande fã do Império Romano, não posso deixar de admitir da imensa influência que o mesmo teve na civilização ocidental, sendo que, ainda hoje e após 1500 anos do fim do império no ocidente, é visível não só vestígios físicos como também uma herança cultural que legaram ao mundo e que proporcionou a evolução do pensamento moderno.

“Deuses e Legiões” conta a história de Juliano (Séc. IV), narrada pelo seu médico e amigo, Cesário.

Para alem da ascensão do imperador, o que torna este livro atraente é por descrever uma época importante sob dois aspectos: a ascensão do cristianismo que via ainda grande resistência nas velhas tradições pagãs e pelas questões políticas que estão por detrás, cerca de 100 anos depois, do declínio e término do império.

No que respeita à narrativa, penso que essa é a grande mais valia, sendo correcta nos factos e na descrição da época, porém o tom é monótono e ao contrário dos outros livros que já li de Curtis Ford, este tem pouca acção, as batalhas são esporádicas e dá pouca importância, quase no fim, das movimentações e razões de Constâncio aquando este pede a Juliano que lhe forneça tropas para combater os persas.

Ou seja, é um livro que se lê bem e que nos descreve muito bem o estado do império no séc. IV, assim como as alterações politicas e os jogos de interesses que estavam por detrás da ascensão e queda de tantos imperadores.

Porem, na minha óptica, falta acção e uma maior descrição no pormenor. Dada ser uma das épocas melhor documentada, o autor tinha a obrigação de ter investido mais nesse aspecto. Sem falar também em alguns factos que o autor refere mas que nunca foram
usados pelos romanos, foram sim criados pela industria de Hollywood.

Por ultimo nota negativa para a tradução que demonstra não ter estudado nem um pouco a época em questão, pois entre outros, traduz “Julian” para “Julião”. Nunca ouve qualquer imperador com esse nome, mas sim Juliano.